"Iliteracia Sensitiva"
Transcrevo aqui um texto da autoria de um Sr. que, por acaso, até foi meu professor, durante aqueles meus dois anos de incursão pelas Ciências da Comunicação. Leccionava então – e presumo que ainda o faça - uma cadeira de Ciências Sociais aplicada à Comunicação. Foi, sem dúvida alguma, uma das poucas disciplinas interessantes que tive durante aqueles primeiros anos na FCSH.
Não chegamos ao capítulo da sexualidade e do erotismo, com muita pena minha e certamente de alguns dos meus colegas de então, porque como podem comprovar pela leitura do texto que se segue, o Sr. Prof. Dr. António Fernando Cascais tem uma coisas interessantes a dizer acerca do tema:
"Um apontamento, porém: há que dizer que, hoje, o principal mecanismo de dissuasão da prática sexual, da passagem ao acto, é precisamente o erotismo visual. A erotização do olhar pressupõe a sobre-estimulação da visão, com a concomitante narcose dos demais sentidos, como há muito o apontou McLuhan. Ora os prazeres do sexo são mais áudio-tácteis que visuais, mais afins da incandescente cegueira da pele e das mucosas que da cortante frieza do olhar que vive da distância que permite ver. Não que o olhar não possa convidar, sugerir, provocar, trespassar. Mas ou ele se resolve no toque ou o suspende, dissuadindo-o, refreando-o até o dessenbilizar. A omnipresença do erotismo visual tanto na esfera pública como na privada tem precisamente por resultado a dessensibilização, a desaprendizagem, a inibição da sinestesia sexual. A sobre-especialização visual vai a par com a iliteracia sensitiva. Vemos bem, tocamos mal."
[Como ainda não aprendi a – e confesso que nem tentei - colocar links neste blog, sugiro consulta do site fonte do texto transcrito: www.interact.com.pt/interact9]
“Iliteracia sensitiva”? Já teremos chegado a esse ponto? Não pretendo seguir o exemplo da Carrie Bradshaw, aquela loiraça anoréctica de Manhattan – aliás comparação impossível de fazer para quem me conhece fisicamente e não só - que escreve uma coluna sobre sexo e relacionamentos, mas isto merece uma reflexão mais profunda. Vou procurar inspiração e, um dia destes, prometo tentar escrever qualquer coisa sobre o assunto.
Carina
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