Messages in a Bottle

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segunda-feira, novembro 22, 2004

Se tudo correr bem...

Se tudo correr bem, i.e., se acontecer o que os outros esperam, o astrolábio que há em mim vai respirar num longo e merecido desabafo.

O poeta da ausência vai arrumar as botas. A pena vai descansar e a tinta que cai gota-a-gota num compasso há muito desenhado pelos feiticeiros do tempo vai acabar por secar.

Se bastasse uma simples palavra de amor, eu mostrava-te as cicatrizes que carrego há anos e saberias como as palavras são pequenas, baças; como as palavras são tão pouco e como, por vezes, em breves momentos e instantes decisivos, as palavras são tudo o que temos.

Se bastasse uma simples palavra, eu mostrava-te o que fui e revelava-te o que sou e então saberias como é pouco o que sabes e como não é nada o que nos impede de sentir.

Vejo-te num reflexo de nós no vidro e a janela está fechada. Fascinante e incómoda a imagem do que fomos, assim como quem mergulha num sonho.

Ainda está para chegar o dia em que a música vai mudar o meu mundo. Ainda está para chegar o dia em que a tua guitarra vai tocar o que eu sinto.

"Estamos no mundo e caminhamos sobre o inferno olhando as flores" (Philippe Forest)


* sonia

domingo, novembro 21, 2004

"Iliteracia Sensitiva"

Transcrevo aqui um texto da autoria de um Sr. que, por acaso, até foi meu professor, durante aqueles meus dois anos de incursão pelas Ciências da Comunicação. Leccionava então – e presumo que ainda o faça - uma cadeira de Ciências Sociais aplicada à Comunicação. Foi, sem dúvida alguma, uma das poucas disciplinas interessantes que tive durante aqueles primeiros anos na FCSH.

Não chegamos ao capítulo da sexualidade e do erotismo, com muita pena minha e certamente de alguns dos meus colegas de então, porque como podem comprovar pela leitura do texto que se segue, o Sr. Prof. Dr. António Fernando Cascais tem uma coisas interessantes a dizer acerca do tema:

"Um apontamento, porém: há que dizer que, hoje, o principal mecanismo de dissuasão da prática sexual, da passagem ao acto, é precisamente o erotismo visual. A erotização do olhar pressupõe a sobre-estimulação da visão, com a concomitante narcose dos demais sentidos, como há muito o apontou McLuhan. Ora os prazeres do sexo são mais áudio-tácteis que visuais, mais afins da incandescente cegueira da pele e das mucosas que da cortante frieza do olhar que vive da distância que permite ver. Não que o olhar não possa convidar, sugerir, provocar, trespassar. Mas ou ele se resolve no toque ou o suspende, dissuadindo-o, refreando-o até o dessenbilizar. A omnipresença do erotismo visual tanto na esfera pública como na privada tem precisamente por resultado a dessensibilização, a desaprendizagem, a inibição da sinestesia sexual. A sobre-especialização visual vai a par com a iliteracia sensitiva. Vemos bem, tocamos mal."

[Como ainda não aprendi a – e confesso que nem tentei - colocar links neste blog, sugiro consulta do site fonte do texto transcrito: www.interact.com.pt/interact9]

“Iliteracia sensitiva”? Já teremos chegado a esse ponto? Não pretendo seguir o exemplo da Carrie Bradshaw, aquela loiraça anoréctica de Manhattan – aliás comparação impossível de fazer para quem me conhece fisicamente e não só - que escreve uma coluna sobre sexo e relacionamentos, mas isto merece uma reflexão mais profunda. Vou procurar inspiração e, um dia destes, prometo tentar escrever qualquer coisa sobre o assunto.


Carina

quinta-feira, novembro 18, 2004

Old Letters

Estamos em Novembro e as cartas antigas insistem em ser relidas. Não percebo muito bem como, mas sou empurrada para o arquivo do tempo e estas cartas imploram-me para que as volte a ler.

É incrivel a força que estas palavras mostram e eu fico sem entender o que terá corrido mal para que tudo ficasse preso no tempo. Leio as cartas e tenho que fazer um esforço enorme para não as sentir, ou melhor, sinto-as e esforço-me para o negar, para camuflar tudo com a passagem dos dias e enganar-me outra vez.

Não me deixam ser sincera. Prendem-me as mãos, amarram-me o coração e pedem-me para não sentir nesta direcção, para não mostrar a minha mágoa. A verdade corrói demais e a dor que finjo não sentir apodera-se de mim enquanto leio as palavras que saltitam nas minhas veias. Não percebo esta força que me faz sentir tudo outra vez, outra vez sem entender o que falhou, sem encontrar o que se terá perdido para que tudo tenha fugido de mim...outra vez.

As cartas escondidas insistem em permanecer junto a mim, sem me revelarem o que mais haverá para além do que nunca chegou a existir, o que haverá para além de tudo o que senti perto, o que haverá para além das certezas e das dúvidas que permanecem com isto.

"Quem conta a sua existência transforma-a em romance e penetra assim no domínio encantado da fábula. Julgamos dizer a verdade da nossa vida e, quando reflectimos, apercebemo-nos que toda a narrativa, mesmo a mais íntima, tranforma-se obrigatoriamente em ficção" (Philippe Forest)... Se contar a vida é fazer ficção, as cartas que agora leio nunca chegaram a existir e tudo não passou de um sonho. Mas não é isso que eu sinto, não foi um sonho a história que inventámos em silêncio, não é ficção o beijo que quisémos.

E, apesar de tudo o que não sei e de tudo o que sinto, a vida ainda continua, os dias ainda escorrem pelas semanas e tudo continua um mistério que não entendo. E eu só queria saber um pouco mais e eu só não queria respirar a inquitante sensação de algo que ficou por sentir.

"So much for my happy ending..." (A.L.)


* sónia

sexta-feira, novembro 12, 2004

Outono em Lx

É tarde. Os teatros estão fechados e a cidade respira o descanso das vidas. O eléctrico desliza sem pressa e eu regresso num instante aos lugares que foram nossos.

Olho pelo retrovisor e o candeeiro está aceso, continua aceso, apesar de ainda ser dia. O sol do Outono é sempre mais fraco quando o frio começa a surgir.

Ainda não é noite e a luz brilha sobre uma aguarela de cores que pintam o céu quente, calmo. Tranquilo fim de tarde, anoitecer acolhedor na cidade que respira histórias pelas esquinas.

As ruas espalham cheiros, cores, luzes das vidas que fazem parte de ti. As cores do céu parecem uma tela de cores amenas, o cheiro das castanhas dispersa-se pelas esquinas, as luzes das pessoas que amamos acendem os sorrisos que carregamos, a música da cidade nas mãos de um mendigo, as janelas abertas para o Castelo, as ruas que correm em direcção ao Tejo, os encontros marcados junto às estátuas, os desencontros e as vidas perdidas no momento em que a cidade treme de novo, abalando as certezas, deixando o destino ao acaso do fado, desenhando as dúvidas de quem receia um porto-de-abrigo.

Tudo faz parte das colinas que subo e desço sem me cansar, tudo faz parte das vidas que acendem a cidade, tudo faz parte de quem sabe o que custa crer, tudo faz parte de nós.


* sónia

quarta-feira, novembro 10, 2004

The Perfect Story

Já não consigo escrever cartas. A tinta não escorre e tudo está a ficar preso, cercado pela sombra desgastada do medo de existirmos sós.

A perfeição das coisas está a prevalecer sobre a vida dos dias. Tudo é belo, perfeito, completo, ideal. Tudo não existe e vai continuar perfeito. O destino é feito com as nossas próprias mãos e as minhas foram amarradas pelo tempo - as tuas, inertes, desenham a dúvida de quem não sabe mais. Seremos sempre uma história, apenas uma história, mas não só mais uma história. Seremos a história perfeita de quem não ousa viver, de quem não vive na urgência de um beijo.

Queria sentir o cheiro a terra molhada, mergulhar as minhas mãos nos teus cabelos, conhecer de cór os teus beijos, cansar-me das tuas piadas, queimar as mãos com o calor das castanhas e desejar repetir tudo de novo sem hesitar. Como és parvo e como adoro que o sejas. Falas comigo como se tivesses medo de estragar a perfeição, como se receasses abalar a ordem apenas por respirares junto a mim, apenas por sentires o calor da minha pele.

Seremos a história perfeita que não existiu. Perfeição nula de vida, de cheiros, de risos, de cores, de luzes. Perfeição onde apenas faltamos nós.


* sónia


segunda-feira, novembro 08, 2004

Histórias do Bairro

Os mendigos já dormem aconchegados na fria pedra branca da estação. A noite faz brilhar as luzes dos navios aconrados à beira do rio. A caravela descansa mas prepara-se para partir - levará consigo a exposição do céu, mas as memórias vão ficar presas junto ao cais e nas esquinas da cidade.

As ruelas estão cheias de pessoas que falam e bebem e riem e fumam e esquecem e eu falo e bebo e rio e fumo e não esqueço. Passo pelas ruas encharcadas de gente desejando que não me vejam, que não olhem para mim, que apenas me deixem passar. Mas é inútil. Este bairro vive das pessoas que percorrem as ruas, que se deixam ficar nas esquinas com mais uma história, com mais uma cerveja, com mais um cigarro que um estranho acende. E tal como o mundo é pequeno, também este bairro é uma aldeia numa noite de histórias esquecidas. Alguém me vê e chama por mim e mais uma história é inventada em segundos. Mas estou cansada e subo a rua desejando apenas dormir, desejando que não olhem para mim, desejando apenas fechar os olhos e adormecer.

Por isso, deito-me e durmo, enquanto espero. Enquanto espero que a noite acabe.

Bairro do Amor, alguém lhe chamou e eu ainda estou para saber porquê. Não é amor que vejo nas suas esquinas, não é só amor - ele também deve andar por aí, mas as histórias destas ruas nem sempre são escritas com amor. Ou devo andar pelas ruas erradas ou em sentido contrário ou o amor deve andar a fintar-me pelas esquinas ou o nevoeiro da noite desceu mais cedo, porque nem sempre vejo amor neste bairro.

Por isso, durmo enquanto espero. Enquanto espero que este bairro me conte uma história de amor. Enquanto espero pelo amor da minha história neste bairro.


* sónia

sábado, novembro 06, 2004

Sónia, Boa Sorte

para a maratona de trabalho (s) que se aproxima. Tem de se começar por algum lado, não é?
Com isso tudo só espero que ainda arranjes tempo para ires escrevendo uns textos para este blog. Já sabes que não dou conta do recado...

Felicidades

carina