Messages in a Bottle

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segunda-feira, março 28, 2005

dizem...

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente (...)

Al Berto

domingo, março 27, 2005

lindo



James Coleman

Fonte de mel
Nuns olhos de gueixa
Kabuki máscara
Choque entre o azul
E o cacho de acácias
Luz das acácias
Você é mãe do sol

Você é forte
Dentes e músculos
Peitos e lábios
Você é forte
Letras e músicas
Todas as músicas
Que ainda hei de ouvir

No Abaeté, areias e estrelas
Não são mais belas
Do que você
Mulher das estrelas
Mina de estrelas
Diga o que você quer

Gosto de ver
Você no seu ritmo
Dona do carnaval
Gosto de ter
Sentir seu estilo
Ir no seu íntimo
Nunca me faça mal

Linda
Mais que demais
Você é linda sim
Onda do mar do amor
Que bateu em mim

Você é linda
E sabe viver
Você me faz feliz
Esta canção é só pra dizer
E diz

Caetano Veloso, in Circuladô Vivo(1992)

sexta-feira, março 25, 2005

...



Kandinsky, "Autumn in Bavaria"

quarta-feira, março 23, 2005

...



Jackson Pollock

segunda-feira, março 21, 2005

*

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...

Florbela Espanca

sábado, março 19, 2005

Palavras Soltas

Museu da Cerâmica de Sacavém
Exposição Jovens Artistas
Palavras Soltas

Os pescadores preparam-se para desafiar as vagas da noite. A praia despe-se. O sol preguiçoso começa a bocejar e as sombras da lua colam-se na areia ainda quente. Tudo agora é já ontem - sombras chinesas, vidas emprestadas, fotografias forçadas, o circo de sempre, figurantes de areia, um gato escondido debaixo da lua, guardanapos coloridos no céu.
Quando as palavras escavam buracos nos lábios que as retêm. Quando o tempo distorce o rumo das coisas. Quando tropeçamos em mensagens perdidas na corrida das ondas. Quando a vida escorre pelos dias nas ruas encharcadas de gente e o amor é fintado pelas esquinas. Quando os sonhos são esquecidos na urgência de virar a página. Quando nada acontece e tudo é um mistério, basta uma palavra solta para acender sorrisos.



Está frio. Apesar de tudo continua frio. E o Verão ainda ontem começou.


Tudo parecia longe e tudo está aqui agora. E aqui a vida é marcada pelo compasso ameno do ócio oxidante.


Vejo-te num reflexo de nós e a janela está fechada – fascinante e incómoda a imagem do que fomos.


Falso embuste não sentir – como seria bom agora.


Perverso ritual de obstrução ao sentimento, costume idiota de esperar pelo que já chegou.


Deixo-me morrer por instantes. Porque é que não posso simplesmente optar pelo mundo dos loucos?


Acordem e ponham os pés na terra, neste planeta se possível.


Que génio é o tempo! Apenas ao passar pelas nossas vidas resolve todos os turbilhões.


A música da cidade nas mãos de um mendigo e o destino largado ao acaso do fado.


Fecho os olhos, respiro o mar e lanço um último desejo às ondas. E talvez o rio me devolva os sonhos que lancei ao mar.

domingo, março 13, 2005

*




Por que me falas nesse idioma? perguntei-lhe, sonhando.
Em qualquer língua se entende essa palavra.
Sem qualquer língua.
O sangue sabe-o.
Uma inteligência esparsa aprende
esse convite inadiável.
Búzios somos, moendo a vida
inteira essa música incessante.
Morte, morte.
Levamos toda a vida morrendo em surdina.
No trabalho, no amor, acordados, em sonho.
A vida é a vigilância da morte,
até que o seu fogo veemente nos consuma
sem a consumir.

Cecília Meireles

domingo, março 06, 2005

Uma Noite na Estrela

músicas repetidas, estranhas vidas repetidas. lugares comuns, lugares de lembranças oxidantes.

sou um composto de fragmentos dispersos no tempo. sou um corpo marcado por todos os dias que vivi, sonhei, neguei, amei, esculpi, hesitei, matei. sou uma cara desfigurada pelas cicatrizes do tempo, do sonho, da morte, do amor, da mágoa. sou tudo isto e nada disto ao mesmo tempo.

as velas apagam-se e o copo é cheio por cores quentes. os olhos dissipam-se ao longe e os contornos evaporam-se nas palavras do norte. Serralves, calhaus e espaços exteriores. caras perdidas, dispersas pela sala e acesas pelos focos de luz que pintam expressões confortáveis.

e o jardim lá fora, como quem está mesmo aqui ao lado...mas lá fora. paredes, muros, janelas, grades, barreiras - a frágil linha entre a vida e o sonho. e o jardim lá fora, como que dentro de mim mas distante, apenas por estar lá fora.

a lua beija o rio e a ponte desenha a outra margem. e a Estrela na noite escura beija o sonho e o céu pinta uma história no jardim lá fora.

quarta-feira, março 02, 2005

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