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segunda-feira, março 28, 2005

dizem...

dizem que a paixão o conheceu
mas hoje vive escondido nuns óculos escuros
senta-se no estremecer da noite enumera
o que lhe sobejou do adolescente rosto
turvo pela ligeira náusea da velhice

conhece a solidão de quem permanece acordado
quase sempre estendido ao lado do sono
pressente o suave esvoaçar da idade
ergue-se para o espelho
que lhe devolve um sorriso tamanho do medo

dizem que vive na transparência do sonho
à beira-mar envelheceu vagarosamente (...)

Al Berto

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

... sónia, bem sabes da minha paixão por Al Berto. É dos poucos que consegue descrever de forma singela e poética os encontros e desencontros da vida, tendo como cenário de fundo a tão nossa amada Lisboa... Desta forma, e depois de me debater com a árdua tarefa de escolher um excerto da sua obra, para também partilhar contigo, aqui fica:

«... um dia, quando a minha memória de homem fugitivo alcançar a idade de um deserto, debruçar-me-ei num poço e tentarei beber o tempo esquecido do teu rosto. Estarei lucidamente morto, eu sei, e os meus olhos já não prenderão a adolescência, nem as imagens que dela se soltaram. E a minha cegueira surgirá cercada por frondosas árvores e pássaros, e não os verei mais. O rosto, o teu rosto, já não conseguirá atrair-me para o fundo circular do poço.
O Tempo de sedução terminou. terás de me tocar, terás de trocar o tacto dos olhos pelo tacto dos dedos. Apenas persistirá o jogo, a cumplicidade, e uma ténue vibração do corpo que se perdeu contra o meu corpo.
Por isso me ergo daqui e atravesso estas imagens coladas às paredes, e ao atravessá-las descubro que estou perdido, e condenado também a perder-te.
Levanto-me do fundo de mim mesmo e abandono a casa, os bens que herdei, e vou pela memória daqueles vestígios que se me cravam no interior das pálpebras, mas não semeio nem recolho nada. Apenas persigo os passos que outrora abandonei pelas cidades onde te procurei, antes mesmo de saber que existias.
E perco-me, perco-me onde a sombra dos corpos é um sudário de melancolia sobre o mar. MAs, ainda aqui estou, quase vivo, atento ao movimento perene das tuas mãos sobre o meu corpo. E sem bússula, nómada até aos ossos, sigo pela noite onde aportei, e não reconheço a casa que me destinaram a morrer.»
AL BERTO, in Lunário

Espero que gostes... Beijos gordos da Nês. PS- a Nina manda beijocas gordas

30/4/05 22:55  
Blogger sónia said...

gostei muito, inês.
este texto é muito...bom.
obrigada...

8/5/05 22:43  

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