Cheiros do Sul
Fui para sul... com passagem obrigatória pelo Paraíso. Não fiquei. Demasiado belo e perfeito. Aborreceu-me. Segui em frente rumo ao Oriente.
Aqui, onde o sol não se debruça sobre o mar para se esconder, onde o mar é mais azul e onde o vento sopra com aromas orientais, aqui a vida é marcada pelo compasso ameno do ócio.
O vento sopra forte mas não consegue derrubar-me. Cresci. Estou mais forte apesar de tudo ser apenas uma concha onde me refugio. O tempo também tem destas coisas: ao passar por nós, as nossas vidas também crescem connosco. Tudo se vai transformando tão lentamente que muitas vezes nem damos conta. “O tempo passa simplesmente... Compreenda quem puder.” (Samuel Beckett)... O tempo, esse salteador de memórias perdidas e achadas na inconstante linha da existência. Esse camaleão camuflado pelo instante, deixa vestígios quase imperceptíveis mas que lentamente forjam as cicatrizes que carregamos. Para onde me levas, ó tempo?
Os meus pés tocam a areia molhada. As ondas insistem galgar até à margem num movimento contínuo, repetitivo, constante. É esta a rotina das ondas. Não se cansam em vir até nós, sussurram-nos segredos e partem. Nunca percebi o que insistem em dizer-me. Mergulho e tudo passa...até o tempo. O vento calou-se. O mar está calmo agora e tudo está bem. Tudo parece bem, por agora.
Adoro beijar a pele salgada. Já me tinha esquecido como é bom saborear a tua pele salgada depois de teres sido acariciado pelas ondas do mar. Era capaz de ficar aqui dias seguidos sem mais alimento.
Nunca pensei que o vento se fosse embora. Estamos calados a ouvir o silêncio do mar. É bom. As pessoas passam e nem sequer olhamos para elas, são apenas figurantes de areia. A tua voz sempre teve um efeito reparador sobre mim. É bom voltar para ti de vez em quando. Faz-me bem. Fazes-me bem. Confortas-me nos teus braços e por momentos, instantes apenas, sinto que tudo vai correr bem. Estás de costas para mim mas eu percebo-te. Estamos mais velhos, eu sei. Nem precisamos de completar as frases. Eu sei o que vais dizes e tu às vezes também sabes.
Subo para a prancha e fico apenas a navegar sem rumo, a balançar ao sabor das ondas que remam até à areia. Do meio do mar tudo parece tão pequeno, insignificante até. Estou longe da margem. Aqui tudo está bem. Não sinto vontade de regressar. Aqui estou protegida pelo mar e pela distância. Sinto-me bem. As ondas começam a agredir-me e empurram-me para fora de água, expulsam-me do meu breve paraíso. Devem ter adivinhado os meus planos secretos para não mais abandonar o mar. As ondas levaram-me até à areia e iam-me sussurrando “Tu não podes ficar aqui...vai”.
É noite. As ruas estão vazias. Refugiamo-nos na praia onde ainda estão menos pessoas. Sinto a areia a espalhar-se pelos dedos dos pés e fico aconchegada pelas dunas. É noite e a areia está quente. Começamos a falar sem sentido aparente. Não concordamos sobre muitas coisas mas isso não interessa, nunca interessou. Estamos juntos e está um boa noite. O céu está claro e o mar calmo. Os nossos planos estão repletos de sonhos. E muitos deles vão ficar presos em miragens do passado. O tempo não nos dá tréguas e avança sem hesitação através das nossas vidas. Somos apenas passageiros do tempo. Vamos para onde ele nos levar e à velocidade do ponteiro dos segundos. Estamos condenados à sua sina. Não conseguimos controlar o tempo, nem o manobrar para correr ou abrandar. Temos que viver ao som do seu compasso.
* sónia
Aqui, onde o sol não se debruça sobre o mar para se esconder, onde o mar é mais azul e onde o vento sopra com aromas orientais, aqui a vida é marcada pelo compasso ameno do ócio.
O vento sopra forte mas não consegue derrubar-me. Cresci. Estou mais forte apesar de tudo ser apenas uma concha onde me refugio. O tempo também tem destas coisas: ao passar por nós, as nossas vidas também crescem connosco. Tudo se vai transformando tão lentamente que muitas vezes nem damos conta. “O tempo passa simplesmente... Compreenda quem puder.” (Samuel Beckett)... O tempo, esse salteador de memórias perdidas e achadas na inconstante linha da existência. Esse camaleão camuflado pelo instante, deixa vestígios quase imperceptíveis mas que lentamente forjam as cicatrizes que carregamos. Para onde me levas, ó tempo?
Os meus pés tocam a areia molhada. As ondas insistem galgar até à margem num movimento contínuo, repetitivo, constante. É esta a rotina das ondas. Não se cansam em vir até nós, sussurram-nos segredos e partem. Nunca percebi o que insistem em dizer-me. Mergulho e tudo passa...até o tempo. O vento calou-se. O mar está calmo agora e tudo está bem. Tudo parece bem, por agora.
Adoro beijar a pele salgada. Já me tinha esquecido como é bom saborear a tua pele salgada depois de teres sido acariciado pelas ondas do mar. Era capaz de ficar aqui dias seguidos sem mais alimento.
Nunca pensei que o vento se fosse embora. Estamos calados a ouvir o silêncio do mar. É bom. As pessoas passam e nem sequer olhamos para elas, são apenas figurantes de areia. A tua voz sempre teve um efeito reparador sobre mim. É bom voltar para ti de vez em quando. Faz-me bem. Fazes-me bem. Confortas-me nos teus braços e por momentos, instantes apenas, sinto que tudo vai correr bem. Estás de costas para mim mas eu percebo-te. Estamos mais velhos, eu sei. Nem precisamos de completar as frases. Eu sei o que vais dizes e tu às vezes também sabes.
Subo para a prancha e fico apenas a navegar sem rumo, a balançar ao sabor das ondas que remam até à areia. Do meio do mar tudo parece tão pequeno, insignificante até. Estou longe da margem. Aqui tudo está bem. Não sinto vontade de regressar. Aqui estou protegida pelo mar e pela distância. Sinto-me bem. As ondas começam a agredir-me e empurram-me para fora de água, expulsam-me do meu breve paraíso. Devem ter adivinhado os meus planos secretos para não mais abandonar o mar. As ondas levaram-me até à areia e iam-me sussurrando “Tu não podes ficar aqui...vai”.
É noite. As ruas estão vazias. Refugiamo-nos na praia onde ainda estão menos pessoas. Sinto a areia a espalhar-se pelos dedos dos pés e fico aconchegada pelas dunas. É noite e a areia está quente. Começamos a falar sem sentido aparente. Não concordamos sobre muitas coisas mas isso não interessa, nunca interessou. Estamos juntos e está um boa noite. O céu está claro e o mar calmo. Os nossos planos estão repletos de sonhos. E muitos deles vão ficar presos em miragens do passado. O tempo não nos dá tréguas e avança sem hesitação através das nossas vidas. Somos apenas passageiros do tempo. Vamos para onde ele nos levar e à velocidade do ponteiro dos segundos. Estamos condenados à sua sina. Não conseguimos controlar o tempo, nem o manobrar para correr ou abrandar. Temos que viver ao som do seu compasso.
* sónia
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