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segunda-feira, agosto 09, 2004

Playing with Myself

Porque é que as pessoas ficam juntas? O que faz com que os corpos se aproximem? O que faz o outro ficar próximo daquele? O que faz os corpos afastarem-se? O que se terá perdido? Será que algum dia estiveram mesmo próximos? Será que alguma vez pensaram que seria mesmo para sempre?

Para sempre é muito tempo. Prometer para sempre é sempre uma falsa promessa. As promessas são mentiras disfarçadas. Ninguém pode prometer sentir o mesmo para sempre. Não é humano. Apenas se pode prometer querer sentir o mesmo que se sente hoje, mas nunca para sempre.

Querer sentir e sentir de facto. Posso não querer deixar de sentir e a realidade revelar-me que já não sinto. E aí, é a razão a querer sentir o que já não se sente, a insistir sentir o que já passou como presente. Presente envenenado: mais cedo ou mais tarde a verdade dos sentimentos vai emergir e tudo ficará claro. Todo o passado vai ser reconstruído pelo presente e tudo se vai perder, como um sonho que não se viveu, como uma ilusão que não se concretizou. Tudo vai ser deturpado e tudo se vai perder. Apenas vai ficar a verdade que resta em mim.

Estou rodeada por famílias felizes: um pai joga à bola com a filha, uma mãe compra gelados idênticos para os gémeos. E penso que nunca conseguirei ter isso. Invejo essas pessoas por um dia terem tido a certeza de quererem ficar para sempre com alguém e penso que eu nunca terei essa certeza. Invejo essa pessoas porque desse «amor para sempre» nasceram pessoas pequeninas que agora riem, choram e pedem amor e mais amor e de mim nunca vai nascer esse amor para sempre. Já não é possível comigo. Acordei dessa fantasia há muito tempo já. A verdade foi-me revelada e não consigo mais voltar à caverna das ilusões prometidas.

Eu acordei e tenho pena das pessoas que continuam a dormir. Adormeceram ao som de uma mentira e repetem-na dia após dia...e gostam e respiram nesse círculo fechado do qual nem pensam em sair. É mais seguro ficar protegido, embalado por uma não verdade para sempre. É tão mais fácil continuar a mentir do que aceitar o que se sente. É mais prudente não sentir. Assim não nos magoamos mais mas não vivemos mais.

Tenho pena dessas pessoas e invejo-as ao mesmo tempo. Eu já não poderei sonhar, amar, prometer, sentir...para sempre. Eu já acordei e essa parte de mim ficou adormecida com os sonhos que um dia tive de ser feliz. Já não quero essa felicidade.


Solução:

1) “O que une as pessoas é tão grande como o que as separa. E às vezes são coisas muito pequenas” (Alguém... que não o Parvo da Barca do Inferno de Gil Vicente)

2) “O cepticismo é a castidade do intelecto e é vergonhoso abandoná-lo demasiado cedo ou ao primeiro que apareça: há nobreza em conservá-lo serena e orgulhosamente durante a longa juventude, até finalmente, na maturidade do instinto e do entendimento, ser possível trocá-lo em segurança por fidelidade e felicidade.” (George Santayana, Scepticism and Animal Faith)

... A resposta encontra-se uma vez mais na passagem do tempo. Que génio é o tempo! Apenas ao passar pelas nossas vidas resolve todos os turbilhões...


* sónia

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

...
"não é fácil a passagem para os lugares que queremos penetrar. eles ocultam-se por detrás de véus. eles resistem e nós próprios resistimos, em lados opostos de uma porta que nos separa. as chaves que usamos nunca servem para lá chegarmos. as próprias fechaduras mudam de forma e os mundos que buscamos mudam de lugar." (ana vieira)

... 'sempre' é realmente utópico... mas o que seria de nós se nem 'sempre' questionassemos o seu valor?... a sua perfeição? o que seria de nós senão sonhassemos e ficássemos presos no mundo de ilusão?...


nês.

1/9/04 23:38  
Anonymous Anónimo said...

sempre é irreal, uma meta ofuscada pelo nevoeiro da assumida ignorância de emoções, um embuste até... mas também o nunca. não estou assim tão azeda...ainda.

* sónia

14/9/04 18:47  

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