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segunda-feira, janeiro 30, 2006

inversão de marcha

há uns tempos atrás decidi não voltar a sentir.

assim como quem resolve deixar de fumar, eu decidi não voltar a sentir. simplesmente afastei os outros com um olhar gélido e uma palavra sarcástica - as armas que me restaram, depois de intensos anos envolvida num conflito armado sem pacificação possível, com os olhos feridos pelo napalm, com as cicatrizes daquilo que um dia foi uma ferida aberta, com as mãos e os pés cansados pelo desgaste da resistência...porque tenho o perfil de quem simplesmente não desiste e insiste em resistir (teimosia, dizem os outros, persistência, digo eu).

meses mais tarde, e sem aviso, dei por mim a sentir. houve outros que se aproximaram das minhas armas e as poliram para batalhas futuras. camuflados e sem receio da minha máscara de guerreira, ousaram esculpir um conto em tempo de guerra e quebraram o gelo do meu olhar. mas os ventos mudaram de rumo e nas minhas mãos uma granada rebentou. resisti e não desisti, mas percebi que sou incapaz de deixar de sentir, mesmo com as mãos estilhaçadas e com a cara desfigurada pelo tempo.

há uns meses atrás decidi não voltar a acreditar.

aprendi a lidar com o inevitável: não consigo deixar de sentir. por isso deixei de acreditar e limitei-me a ver as cores da guerra dos dias que escorrem. no calor da minha lareira enquanto os outros abraçam a guerra, finto as caras e desvio o olhar de quem ousa aproximar-se. protegida e sem receio dos estranhos soldados que correm para a frente da batalha mais temível, sorrio à morte com um olhar de desafio. e mesmo assim, dei por mim a acreditar num enredo fantástico em pleno campo de batalha, apenas por teres arriscado quase tudo para me dar um beijo em tempos de guerra - não hesitaste um segundo para ouvir o som da minha voz, não tremeste um instante ao derreter as defesas das minhas palavras. e sem saberes, fizeste-me acreditar.

há uns dias atrás decidi deixar-me surpreender.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ainda bem...Não voltes a perder essa capacidade de acreditar, de te quereres surpreender! Hoje sei que não existe nada melhor que o deixarmo-nos ir, sem medo, sem máscaras...Mete a primeira, a segunda e deixa-te ir. Esquece a marcha atrás e a inversão e, tudo o resto são histórias, no fim estás mais forte! É a vida e, tudo o resto que se lixe!

30/1/06 00:39  
Anonymous Anónimo said...

... há uns tempos atrás, não há muito, decidi que iria sempre «sentir», que iria sempre arriscar... não por masoquismo, não por falta de amor próprio, mas porque aprendi que é isso que nos faz dormir descansados à noite, sem no entanto nos retirar umas horas de sono... aprendi que tudo que vale a pena custa, que não nos é dado de mão beijada, não é um dado adquirido... há uns tempos atrás decidi tornar-me soldado dessa batalha que é sentir... reparei, não há muito, pela cumplicidade que temos, que nos tornámos companheir(os) de armas, que as cicatrizes da guerra estão lá, são permanentes, mas fazem de nós aquilo que somos verdadeiramente... sim, soldados de guerra, com traumas como todos os outros, sem no entanto não deixar de conseguir sentir, acreditar, surpreender!!

beijinhos...

30/1/06 21:10  
Anonymous Anónimo said...

...daqui a pouco temos um grupo de ex-combatentes do ultramar a lançarem-nos granadas e a dispararem com G3 para sabermos como é mesmo a guerra! lol
oh, tomás...os companheiros de armas não dão "beijinhos"?! vê lá se não queres ir parar à trincheira!!! tipo revival da 1ªGM! lembras-te?
abraços, companheiro! (mas não muitos nem muito apertados!)

31/1/06 13:44  
Anonymous Anónimo said...

ainda bem que todos nós fomos às aulas de português no secundário, e até mesmo antes, para saber o que é uma metáfora linguística... um pouco de ironia, quando usada em excesso não é sempre o melhor, porque por vezes pode ser cáustica... bem espero k o teu humor e poder linguístico te continuem a acompanhar... nas próximas «guerras», batalhas, dias... what ever!!!

abraços e palmadinhas nas costas companheiro!!!

1/2/06 14:19  
Anonymous Anónimo said...

aceito os abraços...mas atenção às palmadinhas nas costas, companheiro!
oh tomás, tens notícias do nosso companheiro carlos?

1/2/06 22:15  
Anonymous Anónimo said...

epah, da última vez quo o vi estava bem acompanhado e recomendava-se a muito boa gente!! deve ser essa a razão do seu silêncio... anda ocupado! mas, considero caro amigo que se apelarmos ele volta: Volta carlos...! os teus companheiros de noitadas têm saudades tuas!! Estás desculpado!!!
abraço e palmada!

3/2/06 20:39  
Anonymous Anónimo said...

"...estava bem acompanhado e recomendava-se a muito boa gente!!..." ???? Passou-me alguma coisa ao lado? Devo dizer que estou um bocado baralhado(a)!!! :P

4/2/06 20:40  

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