Messages in a Bottle

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terça-feira, fevereiro 22, 2005

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"Ser sincero contradizendo-me a cada minuto"
Álvaro de Campos, A Passagem das Horas


Costa Pinheiro
"A cadeira do poeta Fernando Pessoa no seu espaço poético"

Porquê?...

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

domingo, fevereiro 20, 2005

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quarta-feira, fevereiro 16, 2005

respiro o teu nome

respiro ao som do teu nome. o quarto está vazio de luz. vejo-te no escuro como quem chama por mim. chamo por ti e sonho. acordas comigo debaixo da lua que esconde o tempo perdido no acaso. mergulho e o sonho acontece em instantes e por instantes.

momentos, vidas, sonhos.

instantes de sonho e a vida à distância de um toque. tudo não existe agora. tudo não aconteceu. olhas e não vês e eu estou aqui e tu estás aqui. fecho os olhos e sinto e és tu e sou eu. procuro os teus olhos no escuro. encontras a minha voz no silêncio. sentidos trocados. vontades dispersas. desejos gritantes.

apenas o sonho derrubou o tempo. apenas o sonho aconteceu.

domingo, fevereiro 06, 2005

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Franz Marc, "The Unfortunate Land of Tyrol"

O corpo não espera. Não. Por nós
ou pelo amor. Este pousar de mãos,
tão reticente e que interroga a sós
a tépida secura acetinada,
a que palpita por adivinhada
em solitários movimentos vãos;
este pousar em que não estamos nós,
mas uma sede, uma memória, tudo
o que sabemos de tocar desnudo
o corpo que não espera; este pousar
que não conhece, nada vê, nem nada
ousa temer no seu temor agudo...

Tem tanta pressa o corpo! E já passou,
quando um de nós ou quando o amor chegou.

Jorge de Sena


Vincent van Gogh, "View of the Sea at Scheveningenf"

sexta-feira, fevereiro 04, 2005

apenas um

um brinde para a lágrima cair e a vida escorrer em instantes.
um grito para soltar as feras que hibernam no refúgio da história.
um segundo para parar de fingir que tudo é belo.
um suspiro de fúria por cerrar os olhos ao óbvio.
um conto fantástico para amar e sentir o mar revolto.
um rasgo de surpresa na repetição do impossível.
um momento para soprar desejos e viver felizes acasos.