"leva-me p'ra casa"
Está calor. Pequenas gotículas de suor percorrem o meu corpo enquanto um velhote simpático me confidencia breves histórias coloridas.
Estou com pressa. Páro na loja da esquina uma vez mais para comprar ganchos de criança para o cabelo esguio que escorre pela face cansada.
Olho para trás. Lembro a cara do meu avô enquanto escovava o cabelo frágil do seu amor e o prendia cuidadosamente com pequeno gancho.
Não sou perfeita. Durante muito tempo pensei que poderia ser perfeita mas esse tempo expirou sem aviso e persigo agora a constante correcção da imperfeição.
Sinto a morte. Fecho os olhos e lembro as palavras "queria mais" na voz de quem sente o amor de uma vida apagar-se na fraqueza de uma coração moribundo.
Lembro-me de ti. Encharcados num mar de gente sinto-te perto e sigo-te com os olhos enquanto te afastas na multidão.
Sobrevivi. Após o choque a mão tremeu durante dias a fio e ainda hoje tenho pesadelos com as ondas que destruí no embate.
Ainda espero. Vi o meu cérebro por dentro e continuo sem perceber as cores do céu e o vôo dos pássaros quando estás perto.
Tenho sede. Sinto vontade de beber os teus beijos como água num deserto enquanto te sussurro ao ouvido "leva-me p'ra casa".
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