Fica Comigo I
"eu abro a porta de casa e a casa é demasiado grande e a casa é demasiado pequena e o vento sopra por todos os lados e em cima as plantas baloiçam a madressilva a camomila a rosa-chá como barcos presos à terra ou como homens que esperam com as suas folhas ainda verdes antes que seja outono e já é inverno
eu abro a porta de casa e o teu rosto flutua diante da água com malmequeres um pouco à direita o teu rosto enquanto pensa é quando a luz lhe bate e os teus olhos se tornam verdes os teus dedos passam entre o cabelo os teus pés andam descalços no soalho é um espelho das nuvens um espelho dos barcos o soalho e os teus pés vão e vêm sobre as nuvens e sobre os barcos um som seco leve manso eu nem te vejo nem preciso de te ver sei que estás ali sabia e enrolo-me no sofá um bocadinho mais como os gatos e basta estender a mão bastava
eu abro a porta de casa e o amor desata a bater como tambores bate bate cada vez mais alto como se tudo se calasse de repente e ao centro batesse um possuído tu tu tu oiço-te rir a casa está vazia e eu ouço-te rir ris na minha cabeça inclinas o tronco para trás e a tua boca abre-se como um relâmpago e tu ris ao lado dos malmequeres entre o azul turquesa e o laranja tu ris eu oiço agora e tudo se expande e se extingue tão velozmente como quem respira
eu abro a porta de casa e todas as coisas estão quietas todas as coisas que estão no espaço à minha volta todos os dias e todas as noites todo o tempo toda a temperatura de quando se está vivo ao lado de alguém contigo e talvez no andar de baixo alguém volte o corpo devagar enquanto dorme com a testa ligeiramente transpirada e no telhado poisem pedaços de papel ardente como poisaram certa manhã"
...
(A. Lucas Coelho)
* sónia
eu abro a porta de casa e o teu rosto flutua diante da água com malmequeres um pouco à direita o teu rosto enquanto pensa é quando a luz lhe bate e os teus olhos se tornam verdes os teus dedos passam entre o cabelo os teus pés andam descalços no soalho é um espelho das nuvens um espelho dos barcos o soalho e os teus pés vão e vêm sobre as nuvens e sobre os barcos um som seco leve manso eu nem te vejo nem preciso de te ver sei que estás ali sabia e enrolo-me no sofá um bocadinho mais como os gatos e basta estender a mão bastava
eu abro a porta de casa e o amor desata a bater como tambores bate bate cada vez mais alto como se tudo se calasse de repente e ao centro batesse um possuído tu tu tu oiço-te rir a casa está vazia e eu ouço-te rir ris na minha cabeça inclinas o tronco para trás e a tua boca abre-se como um relâmpago e tu ris ao lado dos malmequeres entre o azul turquesa e o laranja tu ris eu oiço agora e tudo se expande e se extingue tão velozmente como quem respira
eu abro a porta de casa e todas as coisas estão quietas todas as coisas que estão no espaço à minha volta todos os dias e todas as noites todo o tempo toda a temperatura de quando se está vivo ao lado de alguém contigo e talvez no andar de baixo alguém volte o corpo devagar enquanto dorme com a testa ligeiramente transpirada e no telhado poisem pedaços de papel ardente como poisaram certa manhã"
...
(A. Lucas Coelho)
* sónia
1 Comments:
Porque quem fala de amor por vezes fala também do nada... falemos de amor ou de nada... para que continuemos a amar o que, quem sabe talvez um dia, deixe de ser nada....
Será o amor nada? será o nada a base do amor?
Amar para que um dia os nossos sentimentos se tornem apenas algo mais do que nada!
Amar para que um dia o simples abrir de uma porta se torne algo mais do que um simples nada...
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