Se foi há anos ou dias, não sei.
Nem quantas vezes te cheirei
No ar da manhã.
Nem quantas vezes te vi despertar
Pensando que essa foi a noite
Melhor de se lembrar
Depois da vez em que o silêncio
Nos quis acompanhar
Pelos segredos que julgamos contar.
Em que nas mãos, os nossos olhos
Souberam desvendar
Dentro do escuro a alma
Não se pode ocultar.
Foi como foi.
Como se o céu um dia
Se abrisse em dois.
Foi como foi.
Como se a terra
Nos prendesse e soltasse depois.
A lua via o sol acordar,
Ficava às vezes até tarde
Só para o ver deitar.
E juro um dia
Que o vi alugar
Um quarto de motel na Via Láctea
Com vista para o mar.
Estremeci ao ver que o tecto
Não tinha para ver
Nem uma telha aberta para espreitar.
Eu alucino ou quase, sempre
Que me deixas pernoitar
Nesse motel da Via Láctea
Com vista para o mar.
Quero rever-te em cada dia
Como revi o futuro
Já que o futuro sorria.
Quero um futuro por dia
Já que o passado nos deixa
Vários futuros na vida.
Luís Represas, Foi como foi
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